quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017


O semblante é sempre o primeiro dos mistérios, um afago de alma para o curioso. Atiça, perscruta, incomoda; estimula ou destrói. Tantas possibilidades por detrás de um olhar ou dois instantes trocados, tudo a título de eternidade... Eternidade essa a ser monolítica apenas em mente.

(O tempo é sempre tão indiferente às pequenezas circulares, tão sisifistas...)

De forma pequena ou grande, objetivamente, pouco importa: a instância de um fascínio sempre se basta por si mesma. Nada significa se, dois dias, alguns outonos ou tais quarenta mil ocasos depois, o ser que encara o semblante passa a se enxergar como o imbecil que é. Maravilhas somente o são. Fim.

Quem enxergaria a Beleza e simplesmente não se fascinaria por ela, sem preocupar-se com as suas vindouras revelações?

E assim segue, despreocupado, o observador... O semblante que vê é escape de alma, regozijo de um corpo miúdo demais para contemplar universo particular tão infinito... Nos mais valorosos traços humanos contempláveis, vê o apaixonado também traços divinos. Mas seu Deus é como o pó ao vento, e não passa de miragem.

O semblante é um paradoxo ambulante, pois se fascina, também mastiga; se edifica, consegue, outrossim, constranger, esmagar e fazer evanescer.

Nas agruras de um tempo vivido, um semblante acaba sendo nada mais do que um semblante... Por essa lógica, redunda num desvario de uma mente perturbada: faz do observador um migrante que vai da sanidade ao fracasso retumbante dos "apoteóticos".

Na lógica dos apaixonados, porém, o semblante sempre será a mais divina e perfeita criação do Cosmos. Ingrato e frio que seja, nessa indistinção uniforme e tão particular, reúne em si todas as arestas perfeitas, notas harmônicas ou outros signos capazes de trazer o Céu à Terra... A última porteira da sanidade antes do abraço resfolegante à completude.

Diferentemente de nós, a Beleza é uma instância que há de perdurar para todo o sempre... Da Beleza nasce o Amor que, como fruto da eternidade, não pertence a nós mortais como bem de posse, e jamais nos pertencerá de tal maneira. Questionar suas motivações é incorrer em absurdo. Pena é quando, por vezes, aceitar puramente seus desígnios traz em si a condenação a um orgasmo infindo de Morte. O Amor, malogradamente, também é capaz de matar em tristeza.